Publicado pela primeira vez em 1971, Felicidade Clandestina reúne 25 contos que falam de infância, adolescência e família, mas relatam, acima de tudo, as angústias da alma. Como é comum na obra de Clarice Lispector, a descrição dos ambientes e das personagens perde importância para a revelação de sentimentos mais profundos. "Felicidade clandestina" é o nome do primeiro conto. Como em muitos outros, é narrado na primeira pessoa, e mostra que o prazer da leitura é solitário e, quando difícil de ser conquistado, torna-se ainda maior. O conto narra a crueldade da filha do dono de uma livraria que se recusa a emprestar As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato, até que a intervenção da mãe da menina permite à narradora deliciar-se, vagarosamente, com a posse do livro. A história, como outras do livro, acontece no Recife, onde a autora passou sua infância. A dificuldade de se relacionar está presente em todos os contos. Em "Uma amizade sincera", dois amigos quanto mais se aproximam fisicamente, mais distantes ficam; em "Miopia progressiva", sobre a expectativa de um garoto em passar o dia na casa da prima mais velha e a decepção quando, enfim, chega o grande dia e nada de especial acontece. Solidão e morte também estão presentes no melancólico "O grande passeio", sobre a velhinha solitária com quem ninguém quer ficar; "A legião estrangeira" fala das visitas, dos conselhos e do silêncio da menina Ofélia; e "Os obedientes", da insuportável simetria do casamento. O cotidiano da vida familiar também faz parte da coletânea, em "Uma esperança" e "Macacos", nos quais as relações dos humanos com os animais servem para a autora falar dos mistérios da vida e da morte. "Os desastres de Sofia" é um dos mais belos contos e trata da relação de amor e ódio de uma menina de nove anos e seu professor. Outro grande exemplo das dificuldades de relacionamento é "A mensagem", sobre dois estudantes, que tenta não se ver como homem e mulher. Só quando ela vai embora é que o rapaz percebe que já é um homem e vê a colega como uma mulher. A descoberta do sexo também é tema da última história, "O primeiro beijo", em que um estudante descobre a mulher após "beijar" os lábios de uma estátua. Entre os 25 contos de Felicidade clandestina, há textos originalmente publicados em jornal e outros que faziam parte do livro A legião estrangeira. A maioria trata de recordações familiares e de infância, mas todos testemunham os mais profundos segredos da alma humana. Felicidade Clandestina, como os demais títulos de Clarice Lispector relançados pela Rocco, recebeu novo tratamento gráfico e passou por rigorosa revisão de texto, feita pela especialista em crítica textual Marlene Gomes Mendes, baseada em sua primeira edição.
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sábado, 2 de novembro de 2013
Livro Felicidade clandestina - Clarice Lispector
Publicado pela primeira vez em 1971, Felicidade Clandestina reúne 25 contos que falam de infância, adolescência e família, mas relatam, acima de tudo, as angústias da alma. Como é comum na obra de Clarice Lispector, a descrição dos ambientes e das personagens perde importância para a revelação de sentimentos mais profundos. "Felicidade clandestina" é o nome do primeiro conto. Como em muitos outros, é narrado na primeira pessoa, e mostra que o prazer da leitura é solitário e, quando difícil de ser conquistado, torna-se ainda maior. O conto narra a crueldade da filha do dono de uma livraria que se recusa a emprestar As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato, até que a intervenção da mãe da menina permite à narradora deliciar-se, vagarosamente, com a posse do livro. A história, como outras do livro, acontece no Recife, onde a autora passou sua infância. A dificuldade de se relacionar está presente em todos os contos. Em "Uma amizade sincera", dois amigos quanto mais se aproximam fisicamente, mais distantes ficam; em "Miopia progressiva", sobre a expectativa de um garoto em passar o dia na casa da prima mais velha e a decepção quando, enfim, chega o grande dia e nada de especial acontece. Solidão e morte também estão presentes no melancólico "O grande passeio", sobre a velhinha solitária com quem ninguém quer ficar; "A legião estrangeira" fala das visitas, dos conselhos e do silêncio da menina Ofélia; e "Os obedientes", da insuportável simetria do casamento. O cotidiano da vida familiar também faz parte da coletânea, em "Uma esperança" e "Macacos", nos quais as relações dos humanos com os animais servem para a autora falar dos mistérios da vida e da morte. "Os desastres de Sofia" é um dos mais belos contos e trata da relação de amor e ódio de uma menina de nove anos e seu professor. Outro grande exemplo das dificuldades de relacionamento é "A mensagem", sobre dois estudantes, que tenta não se ver como homem e mulher. Só quando ela vai embora é que o rapaz percebe que já é um homem e vê a colega como uma mulher. A descoberta do sexo também é tema da última história, "O primeiro beijo", em que um estudante descobre a mulher após "beijar" os lábios de uma estátua. Entre os 25 contos de Felicidade clandestina, há textos originalmente publicados em jornal e outros que faziam parte do livro A legião estrangeira. A maioria trata de recordações familiares e de infância, mas todos testemunham os mais profundos segredos da alma humana. Felicidade Clandestina, como os demais títulos de Clarice Lispector relançados pela Rocco, recebeu novo tratamento gráfico e passou por rigorosa revisão de texto, feita pela especialista em crítica textual Marlene Gomes Mendes, baseada em sua primeira edição.
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